quinta-feira, 26 de março de 2009

Apartamento

Tenho um quadro na parede, mas não olho para ele. Tenho um apartamento todo em caixas.
Tenho um carro que não anda, na garagem, e anéis que não cabem nos meus dedos. Tenho músicas que não toco, roupas que não visto.
E meus discos arranhados, meus livros sem capa, meus velhos brinquedos.
Tenho amigos que não vejo, cartas que não enviei, desenhos rabiscados.
Tenho um conto sem fim.
Fotos sem porta-retrato, compromissos sem data. Tenho tristeza sem motivo.
Tenho milhares de coisas incabadas, um dia vazio. Tempo corrido, e um dia vazio.
Meu telefone não liga, só chama. Guardei coisas velhas, não sei mais por quê.
Guardei minha coragem e quase não achei de novo, agora só fica no meu bolso.
Tenho poeira nos sapatos, um gato sem nome no colo e filmes de 61.
Tenho canções sem letra e um sorriso com vida propria.
Tenho vontade, tenho uma bagunça aqui.
E tenho você.

domingo, 1 de março de 2009

Vermelho.

Se eu fizesse um poema, o nome dele seria Vermelho.
Vermelho como os cabelos da moça, como o presente que ela me deu.
Vermelho como a pintura de suas unhas, como seu único All Star.
Vermelho como sangue - que ela tanto teme.
Da cor do seu mundo.
E quando ela ri, e quando ela chora, e quando ela grita, canta, fica indignada.
Quando ela diz que me ama.
Me deixa sorrir!
Ela quer que o mundo entenda como o dela é mais lindo.
Ela reclama os erros do passado, ela não odeia ninguém.
Personagem do meu livro favorito.
Ela é Clementine, Capitu, Liesel.
Tem sua coragem, sua audácia. Mas é outra, é Tainá, é vermelha.
Não, ninguém nunca a criou. Seu personagem ela mesma quem fez, num dos livros que ela me diz pra abraçar quando terminar de ler.
É aquele que nunca esquece de nos dizer, da sua maneira, pra aproveitar o momento, nem parece real.
Olha pra mim, você é de verdade?
Enquanto fala, sem parar, e se assuta com um grito de um amigo tonto ao seu ouvido, quando é carregada pra todos os lados, por mil braços.
Todos a querem.
Porque ela é diferente, ela é a novidade, ela é quem tem um ímã de pessoas, quem espanta uns poucos e atrai pra dentro de si aos montes.
Como são felizes esses!
Como todos buscam seu sorriso, como todos a procuram no meio da sua felicidade, no de sua tristeza.
Como sorriem suas vitórias e acatam sua queda, para que ela se levante cada vez mais alto, mais alto.
Agora ela pode ver.
Queria que visse meu amor. Queria que visse sua forma, que visse do que é feito, e que viesse me explicar como foi acontecer. Como em uma noite tornou capaz de encantar todos que se unem por ela agora.
E o jeito que ela recebe minhas palavras. Ela sorri, abraça meus textos pobres como se fosse uma mãe a seu filho. Ela engole minhas palavras, lembra-se delas e me devolve outras mais lindas.
"Magma".
A única palavra que mexeu no meu espaço, e que você faz mais linda sempre que pode.
Talvez não seja vermelho meu poema, talvez ele seja magma.

Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais