quinta-feira, 26 de março de 2009

Apartamento

Tenho um quadro na parede, mas não olho para ele. Tenho um apartamento todo em caixas.
Tenho um carro que não anda, na garagem, e anéis que não cabem nos meus dedos. Tenho músicas que não toco, roupas que não visto.
E meus discos arranhados, meus livros sem capa, meus velhos brinquedos.
Tenho amigos que não vejo, cartas que não enviei, desenhos rabiscados.
Tenho um conto sem fim.
Fotos sem porta-retrato, compromissos sem data. Tenho tristeza sem motivo.
Tenho milhares de coisas incabadas, um dia vazio. Tempo corrido, e um dia vazio.
Meu telefone não liga, só chama. Guardei coisas velhas, não sei mais por quê.
Guardei minha coragem e quase não achei de novo, agora só fica no meu bolso.
Tenho poeira nos sapatos, um gato sem nome no colo e filmes de 61.
Tenho canções sem letra e um sorriso com vida propria.
Tenho vontade, tenho uma bagunça aqui.
E tenho você.

6 comentários:

Unknown disse...

e vocÊ tem tanta coisa...
todo mundo tem muita coisa né (?)
às vezes a gente reclama de barriga cheia, mas é porque a gente pensa que uma barriga meio cheia é uma barriga meio vazia né (?)
muito tocante esse seu texto...
ter ...
esse apartamento aê tá tão cehio heim.
gostei muito desse texto.
até pensei que fosse letra de música.

:)

é isso.
um grande abraço.
bj

murphy was right disse...

você escreve bem, bjks

Paola Garambone disse...

Você que escreveu isso Raquetriz?
Gostei mesmo. Juro que se voce virar poeta compro todos os seus livros e ainda divulgo.

O Sinuoso Deadend disse...

Gostei bastante!
Vou passar por aqui mais frequentemente vale muito a pena!


Ass:Rafael Franco

Mari Diamond disse...

"Um apartamento todo em caixas"... sei bem isso, de verdade. Você escreve lindíssimamente, Beatriz. Te adoro muito como escritora também...
Identificação, afinal.

ricardo aquino disse...

No verão você me perguntou
se "o amor é eterno?"
Passei pelo outono pensando
na eternidade
e no amor:
nada, nenhuma palavra!
Até que, sob ventos invernais,
uma criança sem mais
delira:
"o amor pode fazer do que quiser!"
e pude, entre um prazer,
compreender:
o amor é eterno sem querer!


sentindo saudades de seus tecidos!
com distinta poesia